O caso Zara: toda a ilusão em torno do trabalho escravo
por Alexia Chlamtac
(atraso habitual)
Há cerca de uma semana, surgiu uma confusão em torno da gigante espanhola Zara, acusada de ter suas peças produzidas através de trabalho escravo. Dúzias de pessoas reclamavam no twitter, umas alegando ser absurdo uma marca tão importante fazendo uso de tal método ilegal, outras diziam amar a loja, mas que com tal atitude jamais voltariam a comprar lá. O problema em si não era o trabalho escravo e sim quem estava fabricando peças a partir de tal.
A marca é querida de fashionistas, seja por sua agilidade em copiar tendências das grandes maisons, seja pelo seu preço. Caso fosse uma marca de menor impacto, a confusão não seria tamanha. Pouco tempo após descobrirem os trabalhos ilegais nas oficinas de fornecedores da Zara, surgiram suspeitas em torno de outras 35 marcas, inclusive a Brooksfield. Se alguém comenta sobre a Brooksfield? Ninguém. Apesar de ter preços mais altos que a Zara, possui importância minúscula. Pouco importa o trabalho escravo, a preocupação das pessoas está apenas no nome. As Lojas Marisa também já foram alvo de suspeita, mas o estrondo foi menor, pelo mesmo motivo, a importância. Me incomoda ver que pessoas esclarecidas, acreditavam (ou ainda acreditam) que esse tipo de trabalho não existisse mais, é terrível sim pensar que um método (falsamente) extinto nos séculos XIII e XIX, ainda persista, mas é a realidade do capitalismo. As peças são produzidas em larga escala, o tecido é mais ou menos, o acabamento também é mais ou menos, o preço é ótimo, não é viável manter preços tão baixos pagando costureiras(os) dignamente. Empresa nenhuma, ou quase nenhuma, diminuirá seu lucro para pagar de forma honesta seus trabalhadores. Hoje em dia, a maior parte da produção mundial fica localizada em países asiáticos, devido ao baixo custo da mão de obra, recebem, em alguns casos, menos de US$1,00/dia para trabalhar mais de 12 horas/dia. Repito, faz parte do capitalismo. Outras gigantes que já foram suspeitas de trabalho escravo? Sony, Dell, HP, Apple (sim, a Apple, e nem por isso vou varejar meu MacBook ou meu iPhone pela janela, continuo aqui, apaixonada cada dia mais pela empresa), Nintendo, Nike, a lista é enorme. Imaginem a Forever XXI, a H&M ou a Primark, as duas primeiras são típicas de blogueiras de moda, COMO seria possível manter peças à US$2,00, com uma qualidade ótima para o preço (vamos combinar que só pano de chão tem qualidade boa no Brasil por esse preço), mantendo seus funcionários com salários decentes? Não tem como (não existem dados que comprovem, é uma suposição minha)!!! Não vou dizer que todas as peças são produzidas em países subdesenvolvidos, tenho peças da Zara produzidas na Espanha e peças da Forever XXI produzidas nos Estados Unidos. Além disso, as peças não são produzidas em um único país.
Na última edição do Fashion Business,fiz uma pergunta à Costanza Pascolato, e em sua resposta ela contou sobre uma história que havia lido há pouco tempo em um jornal de Londres: uma mulher estava andando por determinada rua em Londres. Bem vestida, local, carregando sacolas lotadas de roupas de fast-fashion, quando de repente, começou a chover e chover muito, as sacolas derreteram e toda a roupa caiu no chão, ao invés de voltar e pegar suas roupas caídas, ela continuou andando, o dinheiro que ela gastaria para recuperar aquelas roupas não valia o que ela gastou comprando-as. Alguém realmente acredita que roupas que não merecem nem ser recuperadas após uma chuva forte, são produzidas por trabalhadores não-escravizados?
É bonito demonstrar revolta, deve ser fashion ser falsamente ativista ou algo no gênero. Por pior que pareça, não vou deixar de comprar na Zara por trabalho escravo, não é a única, porque se eu parar de comprar na Zara, vou parar de comprar na Forever XXI, na H&M, na Apple (essa é a que mais dói), não vou comprar em loja nenhuma que faça uso desse tipo de abuso. Se sou a favor? Não, de jeito nenhum! Mas “entendo”, mesmo não concordando, a posição das marcas e como esses meios acabam sendo mais rápidos e benéficos para elas. Trabalho escravo existe, sim, e não é falando mal da Zara (e continuar comprando escondido) que vai resolver o problema!
Perdoem a falta de sentido e a confusão do texto. A primeira “versão” estava linda e maravilhosa, até que acabou a abateria do celular e eu perdi o texto. A segunda não chegou nem aos pés, mas já deu pra ilustrar a minha opinião.
Essa posição de que não posso consumir um produto e questionar a forma que ele é produzido me remete ao slogan dos tempos da ditadura: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Não precisamos deixar de ser cliente para protestar contra o método de trabalho das marcas que consumimos. E olha que a maioria dessas marcas eu jamais comprei uma peça sequer. Quem está em melhor posição para mudar essa situação? Me parece que as marcas que lucram milhões em cima disso estão. Até mesmo porque o que interessa é manter os empregos, porém com condições dignas de trabalho, então a pressão popular pode levar a melhor fiscalização dessas condições. O boicote de alguns não vai mudar muita coisa, mas se esse mesmos alguns cobrarem com eficiência ação das autoridades sobre o assunto, algo pode mudar. “Entender” que essa estratégia é benéfica para as marcas mas questionar e criticar o consumidor que, individualmente, tem um poder muito menor de decisão é contraditório, e um tanto elitista.
Oi, Lana!
Se você consumir o produto, pra mim, você está incentivando esse tipo de produção. Por que a marca vai parar de produzir à custo de trabalho escravo se continuam comprando? Não vai surtir efeito nenhum na vida deles e eles ainda vão perder dinheiro por aumentar os salários dos trabalhadores e diminuírem as cargas horárias. Agora, se pararem de comprar, eles serão obrigados à modificar os meios de produção para que, assim, consigam retomar os lucros anteriores. Mas não é um movimento só no Brasil, tem que ser algo que movimente o mundo inteiro e cause uma baque na economia da empresa.
As marcas não são as únicas que podem mudar isso, o povo também pode, mas teria que ser um movimento muito grande. A marca por si própria, não vai mudar a posição dela, porque vai perder dinheiro. Se eles sofrerem uma grande pressão do público, pode acontecer, porque se as vendas caírem muito, o “prejuízo” pode ser maior do que aumentar os salários e diminuir as cargas horárias, assim eles mudarão.
A fiscalização pode aumentar, mas tem que ser algo muito sério, porque fiscais podem ser subornados, leis podem ser burladas. O que interessa não é “manter o emprego”, porque eles sempre encontrarão trabalhadores por um “preço” mais baixo, o que interessa é mudar a forma de pensar e agir de maneira correta.
Não é elitismo, é realidade. Se mil compradores forem contra a Zara, isso não significa NADA, cem mil também não vai significar muita coisa. A Zara não é a Arezzo, pra afetar, tem que ocorrer
um impacto mundial.
Obrigada pela sua opinião : )
Beijos
Foi isso que eu quis dizer, o boicote individual não representa nada, mas a manifestação geral e pressão via meios legais por parte da autoridades funciona de forma muito mais efetivas. Como você disse, mil pessoas boicotarem e não se manifestarem não vai mudar nada para uma empresa como a Zara, mas manifestações dessas mesmas mil pessoas pode trazer uma imagem negativa que a Zara não está a fim de ter. As empresas, de livre e espontânea vontade não irão fazer isso, claro, mas é contra elas que temos que mirar nossa indignação, mais do que aos consumidores. Vide justamente a repercussão do caso Arezzo, que foi tão imediata que a empresa logo se manifestou, temendo uma queda nas vendas, não deve nem ter dado tempo de as vendas caírem efetivamente. Não acho que boicotar seja ineficiente, muito menos inválido.mas também não acho que não boicotar tira da pessoa o direito de cobrar uma outra atitude da empresa.
Obrigada pela resposta.
Beijos
Lana, como eu respondi no comentário da Luciana, as vendas da Arezzo aumentaram depois da confusão. Então, fico em dúvida em relação a isso hahaha acho que mil pessoas boicotando, 10 mil pessoas, nem chega a causar uma imagem negativa pra Zara? Porque a empresa é muito, muito grande, acho que seria muito pouco… Inválido não é, mas o que eu quis dizer é que chegar no twitter e dizer “nooooossa, tô passaada com isso da Zara” e na próxima promoção sair lotada de sacolas. Porque eu tenho certeza que em duas semanas, quando alguém passar em frente a uma vitrine da Zara não vai exitar em entrar e comprar.
E não precisa agradecer, hahaha, é meu papel!
Beeijos!
Mas as empresas só vão deixar de utilizar esse tipo de trabalho quando pesar no bolso mesmo. E isso só vai acontecer quando diminuírem as vendas, e, consequentemente, os lucros. Não é porque a exploração faz parte da estrutura capitalista que só resta ao cidadão (partindo do princípio de que somos cidadãos antes de sermos consumidores) aceitá-la passivamente; dentro da lógica capitalista, as pessoas têm o poder de mudar a realidade, escolhendo consumir ou deixar de consumir os produtos de determinada empresa. Claro, isto para quem se importa em consumir conscientemente e faz algum esforço em tomar atitudes individuais coerentes com essa postura.
Oi, Luciana!
Concordo com você, o problema é que quase 98% das empresas fazem uso de trabalho escravo, um movimento que atinja digamos, só o Brasil, não vai mudar em NADA essa realidade, talvez acabe aumentando as vendas, como aconteceu com a Arezzo depois da polêmica em torno da coleção com pele de animais.
Não é questão de aceitar ou não passivamente, mas não é algo que possamos mudar reclamando no twitter e continuar mudando. Talvez eu não tenha deixado claro no post a minha opinião, se for alguém engajado, apóio e admiro, mas falar da boca pra fora e continuar comprando na empresa acusada e em outras que também fazem uso, não faz sentido pra mim. Eu não vou ficar pesquisando empresa por empresa até achar uma que não faça uso de trabalho escravo para poder comprar determinado tipo de produto, entende? E não acho coerente deixar de comprar em uma que faça uso desses meios para comprar em outra que também faça. De qualquer forma, só quis expressar a minha opinião…